Uma loja entre a tradição e a modernidade

A Casa Verde é uma das lojas mais antigas e características de Faro.

Situado em plena baixa, desde 1920 que este estabelecimento, especializado na comercialização de artigos de confecção, retrosaria e pronto-a-vestirdes, é testemunha privilegiada da evolução da vida comercial da capital algarvia.

O seu gerente, Fernando Matos, ali trabalha há 44 anos, tempo mais do que suficiente para garantir que conhece a fundo não só o negócio que dirige, mas toda a baixa de Faro.

Ao longo destas décadas, já viu o comércio passar por boas e más fases. Diz que as décadas de 1970 e 1980 foram “muito boas”, aquela zona atraía multidões, havia muita dinâmica e os estabelecimentos comerciais vendiam o suficiente para que os seus gerentes não tivessem problemas de maior para pagar as contas e, ao fim do mês, levar para casa o fruto do seu trabalho.

A data que, na opinião de Fernando Matos, parece ter dado início a um ciclo negativo que não há meio de se ir embora foi 1 de Janeiro de 2002, dia em que, oficialmente, o escudo foi substituído pelo euro. A ideia que tem é que, a partir daí, o custo de vida aumentou, os portugueses viram-se com menor capacidade financeira, situação que, naturalmente, afectou as empresas, que passaram a vender menos.

Antes disso, já os pequenos negócios tinham começado sentir o impacto do fenómeno das grandes superfície, que, ao longo dos tempos, se intensificou. Ainda recentemente surgiu às portas de Faro e Loulé, uma autêntica ‘cidade comercial’, na zona do Ikea, que é um novo foco de atracção do consumidor. Um dos efeitos já visíveis foi o fecho das lojas da Zara e da Pull & Bear que estavam instaladas na Rua de Santo António e que “traziam muita gente à baixa de Faro”.

Fernando Matos critica o facto de alguns serviços públicos terem saído da baixa de Faro para serem  instalados na Loja do Cidadão, situada no Mercado Municipal, o que fez baixar o fluxo de pessoas que se deslocam a esta zona nobre da capital.

Quando se lhe pergunta que estratégias devem ser levadas a cabo para conseguir dar a volta a este panorama sombrio, de forma a que aquela zona volte a ganhar a dinâmica de outros tempos, Fernando Matos assume que “francamente, não sei, já vi tentarem tanta coisa e nada resultou”.

Admite que algumas iniciativas de animação que a Câmara e as associações comerciais têm ultimamente desenvolvido, como o Baixa Street Fest,  são meritórias e nos dias em que decorrem levam muita gente àquela zona. No entanto, trata-se de acções que, em termos de facturação, podem trazer bom retorno aos restaurantes, bares e cafés, mas não propriamente ao tipo de negócio a que se dedica.

Em face de tudo isto, desabafa que o negócio já não é o que era. A Casa Verde “vai vendendo”, até porque tem clientes fiéis, está bem situada, disponibiliza artigos que não se encontram em muitos outros espaços, mas confessa que “temos de fazer algum jogo de cintura” para que o dinheiro que entra dê para pagar todas as contas.

Embora seja um estabelecimento antigo e mantenha a sua traça, a sua imagem de marca e alguns móveis que mostram que tem uma história de que se pode orgulhar, a Casa Verde foi-se adaptando aos novos tempos e hábitos dos consumidores. Muitos dos balcões que existiam por toda a loja foram desaparecendo – ficaram apenas três de apoio – e deram lugar a expositores.

Na forma de receber e atender o cliente também houve uma alteração em relação ao que era habitual, há alguns anos, no chamado comércio tradicional, em que assim que alguém entrava numa loja tinha um funcionário a perguntar-lhe o que queria.

Agora, diz Fernando Matos, “as pessoas gostam de circular livremente pelas lojas, nós estamos disponíveis para os ajudar e explicar tudo o que querem saber sobre os nossos produtos, mas deixamos que os clientes levem o seu tempo e vejam, tranquilamente, o que muito bem entenderem”.

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