Produtores de vinho devem apostar na qualidade e não na quantidade

Entrevista ao presidente da Direcção da Comissão Vitivinícola do Algarve (CVA), Carlos Gracias, realizada no final do Simpósio Vitivinícola do Algarve que aquela entidade promoveu, em Silves, na passada Segunda-feira.

O Algarve Económico (AE) – Qual foi o objectivo desta iniciativa?

Crarlos Gracias (CG) – Este foi um dos dois simpósios anuais que nos comprometemos a fazer ao longo do ano, para discutir temáticas relacionadas com a actividade. Decidimos, paralelamente e no mesmo dia, realizar o concurso de vinhos e fazer a entrega das medalhas dos vinhos premiados no final do simpósio…

AE – E foram muitos prémios distribuídos de ouro e prata, o que é bom sinal?

CG – Contámos com um elevado número de produtores a concorrer e tivemos 85 vinhos à prova. Os escanções que foram responsáveis pela coordenação técnica do concurso elogiaram a qualidade dos vinhos e a prová-lo está o facto de não terem atribuído medalhas de bronze, mas apenas de prata e ouro.

AE – Nos últimos anos tem-se ouvido falar muito de vinhos algarvios. Com alguma frequência realizam-se seminários, provas e outras iniciativa e há notícias da conquista de prémios a nível nacional e até internacional. Isto é sinal de que os vinhos algarvios estão em alta?

CG – Estamos, efectivamente, num crescendo de qualidade, o que é resultado de um trabalho que, na região, através da CVA e dos próprios produtores, tem sido feito, com sucesso, no sentido de termos cada vez melhores vinhos.

Nos últimos anos mais que duplicámos o número de produtores, tendo passado de 16 em 2010, para o actual número de 34. Passámos a fasquia de um milhão de garrafas e, na campanha de 2017, atingimos o valor recorde de 1,6 milhões de litros produzidos. Tudo isto indicia sucessos futuros, quer ao nível da qualidade, quer de quantidade.

AE – Neste seminário houve quem defendesse que o sector tem de aumentar a quantidade, uma vez que o Algarve ainda é uma região que, em comparação com outras, produz pouco vinho. Qual é a sua ideia: acha que se deve ir nesse sentido ou apostar essencialmente na qualidade e, por essa via, conseguir aumentar o preço e, consequentemente, o lucro dos produtores?

CG – Acho que devemos ter um crescimento sustentável, ir produzindo mais à medida que o mercado vai pedindo vinho algarvio. É, de resto, isso que tem marcado o nosso êxito nos últimos anos. Só se conseguiu passar a meta de um milhão de garrafas porque houve um aumento da procura, graças ao trabalho de promoção dos vinhos.

As acções que, com esse objectivo, temos levado a cabo têm passado para o público, a restauração tem aderido aos vinhos do Algarve… Trata-se de uma evolução importante, uma vez que há 6 ou 8 anos atrás era difícil ver vinhos algarvios na restauração e na distribuição.

O Algarve nunca pode ser uma região de grande quantidade, não se pode ir por aí, temos que ir pela qualidade e diferenciação. Por isso é que defendemos a utilização da casta Negra Mole porque os vinhos feitos com ela são únicos, exclusivos e diferenciadores.

AE – A maior parte do vinho que se produz na região é tinto ou branco?

CG – Os vinhos tintos continuam a dominar, mas a mensagem que a CVA de que os produtores também devem apostar nos brancos tem passado. Isto porque estamos numa região turística, a maior parte de quem nos visita vem no Verão e faz sentido servir-lhes vinho branco fresco, nessa altura do ano.

Temos produtores a fazer novas plantações de uvas para vinhos brancos, outros a reconverter algumas castas de tinto em branco e aumentando substancialmente (quase que duplicamos, nos últimos anos) a produção de vinho branco. O tinto ainda domina mas estimo que, nos próximos anos, o branco vá representar cerca de 50% da produção.

AE – No que diz respeito à distribuição, no decorrer deste simpósio houve quem defendesse que se deve ir para fora da região e para as grandes superfícies e quem dissesse que se deve apostar essencialmente na venda no Algarve, uma vez que temos aqui ainda um grande mercado por conquistar. Qual é a estratégia que defende?

CG – Os caminhos a seguir pelas empresas, elas é que os decidem. Mas a percepção que temos – e isso é dito pelas estatísticas – é que a grande percentagem do vinho é vendido na distribuição e uma pequena parte na restauração. Curiosamente, no caso dos vinhos do Algarve, até tem sido a restauração a potenciar as vendas.

Mas também temos que pensar que somos uma região pequena, o tal milhão de garrafas é pequeno para satisfazer um aumento grande de procura que venha a surgir. Por isso, temos que ter cuidado na forma como promovemos a região e os nossos vinhos. Podemos cair na situação de estar a  criar expectativas erradas no consumidor e mesmo nos mercados, que começam a pedir muito vinho algarvio, o que nos pode deixar numa situação de ruptura, que é pior que pode acontecer.

Portanto, devemos avançar com calma, de forma sustentável, apostando nos brancos e rosés, que se bebem mais no Verão, e continuando, também, a produzir uma percentagem de tintos.

AE – Houve quem se queixasse que os produtores algarvios que queiram plantar ou reconverter vinhas não conseguem aceder aos fundos comunitários. É mesmo assim?

CG – Há produtores que se queixam disso. As regras comunitárias definem prioridades e, efectivamente, por estarmos numa região estatisticamente com rendimentos altos, podemos ficar excluídos em algumas selecções das candidaturas.

Mas também é verdade é que há 2 por cento da superfície vitícola total para distribuir todos os anos pelos produtores. Agora, se calhar, são outras regiões que estão a ficar com esses direitos, devido aos rácios de distribuição que não são favoráveis ao Algarve.

Partilhar:

Facebook
Twitter
Pinterest
LinkedIn

Artigos Relacionados

File-4

Parque de Campismo Municipal de Faro já conta com nova oferta de tendas de glamping

CVM-2-2

O Município de Lagoa iniciou a substituição de mais uma conduta adutora, a Cerca da Lapa – Moinhos – Vale de Milho

BRIX5833_B

Município de Alcoutim apoia diabéticos do concelho

Diretor:
Miguel Ângelo Morgado Henriques Machado Faísca
Nº de inscrição na ERC:
124728