Encante-me… E eu comprarei

Era uma vez um país na Europa que começou a ser o destino preferido dos turistas europeus. No primeiro semestre de 2016, mais de 8,5 milhões de turistas visitaram as cidades portuguesas de acordo com a European Best Destinations. Considerando que estava na competição nada mais nada menos que Paris, a cidade das luzes, ouvir dos turistas que:

“O Porto é excepcional de várias formas (…), e a arquitetura, a cultura, a gastronomia, o comércio, os encontros e a descoberta vão seduzi-lo.”

Opa! Acho que eu li uma palavrinha que sempre me chama atenção em qualquer texto: comércio. E acho que eu li outra que não me agradou muito: seduzí-lo.

Bom, vamos aos factos porque contra factos não há argumentos:

Cena 1 – Entra na loja a pessoa que vos escreve para comprar uma bolsa. Para averiguar a qualidade do material toca em 3 bolsas e eis que surge um ser lá do fundo da loja e grita de lá mesmo:

– Mas o que que se passa aí? Não pode pegar nas bolsas. Se a senhora vai comprar, diga qual é que quer e eu pego pra si.

Com uma cara de cão sem dono saio da loja sem dizer um “a”, simplesmente porque faltou resposta.

Cena 2 – Sem opções de alimentação saudável nas ruas de Lisboa, vou à uma tenda que vende sumo de frutas em garrafinhas. Promoção: 2 por 5€. Pergunta a colaboradora: 

 – Qual o sabor?

Penso por 2 segundos porque havia umas 6 opções de escolha e, em um tom um pouco mais alto e agressivo, ouço novamente: 

 – Qual o sabor, minha senhora?

Perplexa com a “delicadeza”, respondo:

– Eu posso pensar?  

Cena 3 – Numa loja de cosméticos, entro para comprar uma determinada linha de produtos para o cabelo, indicada pelo meu cabeleireiro. Ao olhar para a prateleira fico um pouco perdida com a quantidade de opções, sem encontrar a marca que estava a procurar. As colaboradoras, no balcão estavam.. e no balcão permaneceram.

Realmente determinada a comprar o produto, sigo em direcção ao balcão e, depois de um largo sorriso, minha marca registada para quebrar o gelo, digo: 

 – Estou precisando de uma ajudinha aqui…

 – Diga lá.

 – É que não encontro a marca XYZ de tratamento para cabelos loiros.

 – Olha, minha senhora, o que tem é o que está aí.

Pensei: Foi isso mesmo que eu ouvi? Vou tentar de novo.

 – Ahhhh.. Que pena. Então essa marca não tem?

 – Não. Não tem.

O problema é que eu realmente queria tratar o meu cabelo. Insisto:

– E a senhora recomenda alguma outra? Sabe onde eu consigo encontrar essa linha que meu cabeleireiro indicou?

Ignorando a primeira pergunta que, diga-se de passagem, seria o gatilho que qualquer vendedor decente precisaria para vender, vem a resposta:

 – Não sei, não.

 – Obrigada.

Saí da loja arrasada e pensativa. É…. Há muito trabalho a fazer por aqui.

Cena 4 (porque eu gosto de número par) – Preguiçosa, não fiz compras de supermercado no dia anterior e tive que acordar e tomar meu pequeno almoço na rua. Tinha acabado de me mudar e não conhecia a zona.

Saí do prédio e andei alguns metros deparando-me com mesinhas e cadeiras na calçada.

Pensei: Oba! Nem precisei andar muito. Sentei-me.

1 minuto… 2 minutos… 3 minutos… Olho pro telemóvel praa ver se alguém mandou mensagem… 4 minutos… 5 minutos e tchan tchan tchan… Ufa! Surgiu um empregado de mesa. Olhou para mim com cara de surpresa e eu até pensei: Será que estou estranha? Ele então inicia um diálogo, sem um sorriso no rosto. E antes de continuar a história, preciso dizer algo:

– SORRIR É BÁSICO EM QUALQUER APPROACH, TÁ BEM?

Pronto. Falei. Vamos ao diálogo:

 – Olá.

 – Olá. O senhor tem uma ementa?

Com um cara de quem estava a ouvir uma pergunta ridícula, ele respondeu secamente:

 – Não. O que a senhora quer?

Eu não preciso terminar o resto da experiência. Pedi o que me veio à cabeça por fome e preguiça.

Bem, eu teria mais uns 10 relatos de experiências que não me seduziram, mas uma chamou-me a atenção não porque eu tenha sido seduzida, mas porque eu fiquei ENCANTADA. Vamos ao que há de bom no COMÉRCIO:

Indicada por uma amiga que deu meu telemóvel para um ginásio, recebi uma ligação com um convite para conhecer o local. Despretensiosa, fui. Ao chegar no ginásio, já fiquei surpresa com a limpeza, decoração e cheiro agradável. Quando entrei, um largo sorriso de boas vindas veio em minha direcção, que ainda só tinha visto caras sérias e carrancudas no comércio. Pensei: Ufa! Finalmente, alguém feliz por ter um emprego. A rapariga diz:

 – Oláááá! Tudo bem?

 – Tudo. Eu recebi uma ligação da Joana e ela marcou comigo às 11:30.

 – Ahhh sim… Aguarde só um bocadinho que já vou avisar.

Chega a Joana, a sorrir… (Oba! Mais uma feliz!)

 – Olá Daniela! Tudo bem? Vamos conversar um pouquinho antes deu lhe mostrar o ginásio?

 – Claro!

A rapariga estava a usar várias técnicas de vendas comigo e eu, que dou formação sobre isso, não conseguia nem perceber, tamanho o encantamento. Ela soube da minha vida inteira em 15 minutos de conversa e no fim já estávamos praticamente amigas!

No meio da apresentação do ginásio eu já estava à procura do contrato para assinar, mas, eis que me chega a tacada final, sem eu pedir, para que eu me sentisse ENCANTADA o suficiente para comprar o pacote que fosse:

 – Olha, como a senhora é muito simpática, eu vou lhe abrir uma excepção aqui e vou lhe dar 30 minutos de massagem de graça.

 – Oi? Massagem? Onde assino?   

       

 

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