Entrevista ao director da Direcção Regional de Agricultura e Pescas do Algarve, Fernando Severino.
O Algarve Económico (AE) – A agricultura algarvia está a passar por uma boa fase?
Fernando Severino (FS) – Sim, uma fase a que chamo a ‘nova agricultura’. É uma agricultura que, particularmente depois da crise, teve um crescimento e um desenvolvimento bastante interessantes.
É uma fase em que se verifica o rejuvenescimento no sector, a aposta em novas culturas, mas em que, por outro lado, os produtos tradicionais regionais começam a vir ao de cima com maior produção, melhor qualidade e maior aproximação ao público.
O Algarve Económico (AE) – Quais são os produtos que, actualmente, estão em alta?
Fernando Severino (FS) – O Algarve está a vender bem os seus citrinos, a afirmar-se cada vez mais no mercado internacional e a consolidar-se no mercado nacional.
O abacate começa a despontar, com um interesse comercial bastante grande e com uma grande procura, em termos de exportação. Os frutos vermelhos continuam a ser produzidos, a floricultura também está numa fase bastante interessante e com a sua quota de exportação.
A alfarrobeira continua a ser plantada e há novos pomares de figueira, em muitos casos, em forma de agricultura biológica.
AE – Normalmente, os empresários queixam-se que é difícil conseguir a internacionalização, mas, por aquilo que diz, ao nível dos produtores algarvios, isso tem vindo a acontecer e em diversos sectores. Como é que isso aconteceu?
FS – O caso dos citrinos é o mais fácil de explicar. Há uns anos atrás, os produtores só vendiam para o mercado nacional, hoje em dia, de forma crescente, vai havendo uma quota superior para os mercados europeus e mesmo fora da Europa. Esse grande trabalho pioneiro foi feito, essencialmente, por muitas organizações de produtores.
O caso do abacate é interessante porque é a própria Europa e até países de fora da Europa que sentem necessidade de maiores quantidades e fazem encomendas aos nossos produtores que, curiosamente, muitos deles até estão integrados em associações espanholas, enquanto aqui não for formada uma.
Outro exemplo é o do mel que vai aumentando cada vez mais o volume de exportação, devido à sua qualidade. Temos um clima mediterrânico que tem características particulares, que fazem com que o nosso mel seja muito apreciado lá fora.
Também a Dieta Mediterrânica tem sido importante na promoção dos nossos produtos, através dos turistas.
AE – Mas, a par das histórias de sucesso, ao nível da exportação, cá dentro, muitas vezes, as coisas parecem mais difíceis. É recorrente a queixa dos produtores de que não conseguem colocar os seus produtos, por exemplo, em restaurantes e hotéis. Isso continua a verificar-se?
FS – Há, efectivamente, uma barreira por ultrapassar. Os milhões de turistas que ficam hospedados em Portugal podiam consumir mais os nossos produtos, beber o nosso sumo de laranja, comer os nossos abacates e os nossos figos.
AE – Tem havido uma ligação forte entre os produtores e os investigadores e universidades, de forma a descobrir-se novas formas de rentabilizar e dar mais valor aos produtos agrícolas?
FS – Tem. Veja-se o caso da alfarroba em que acabou de se investir numa unidade de transformação em Faro cerca de 5 milhões de euros. É, exactamente, para se proceder à transformação da alfarroba e aplicá-la em novos produtos.
Também o medronho e o figo, por exemplo, vão sendo aplicados crescentemente na transformação, sobretudo em produtos de doçaria, mas não só.
AE – Nesta altura, estamos numa fase de chegada de mais fundos comunitários. Para a agricultura há muitas verbas disponíveis?
FS – O Algarve investiu 260 milhões de euros no último quadro comunitário de apoio e, neste momento, no novo, já tem intenções de investimento que rondarão à volta dos 170/180 milhões de euros.
Não são todos projectos aprovados, ainda vão ser analisados, mas esse volume demonstra a forte aposta do empresário-agricultor no sector.
Há também a destacar que, entre estes investidores, há muita juventude. Enquanto que num quadro comunitário normal se instalavam 100 jovens no Algarve, no último instalaram-se 500 e neste estamos na mesma proporção de interesse pelo sector.
AE – Esses projectos são de áreas muito diversas ou mais focados em determinados produtos e tipos de actividade?
FS – Muitos investiram no mel, mas também acompanharam com alfarrobeira, com medronheiro e com figueira. Continua também a haver um investimento interessante nos citrinos.
Outra parte aposta na alta tecnologia, na inovação, nas plantas ornamentais e nos frutos vermelhos.
Estes jovens agricultores são licenciados e com vários tipos de formação, o que traz riqueza, inovação e um grande valor acrescentado à agricultura algarvia.